Pastagens e a desafiadora fronteira da sustentabilidade

“Pastagens e a desafiadora fronteira da sustentabilidade” foi o tema do artigo de Maurício Palma Nogueira,  coordenador do Rally da Pecuária, publicado no encarte especial da Revista Agroanalysis pelo GTPS, em comemoração aos 10 anos de atividades do Grupo. Confira abaixo na íntegra.

Pastagens e a desafiadora fronteira da sustentabilidade

A falta de bons cuidados e manejo nas pastagens continua sendo o grande gargalo da bovinocultura brasileira. Segundo dados acumulados pelo Rally da Pecuária, expedição anual organizada pela Agroconsult, os pastos amostrados são distribuídos em cinco classificações de qualidade: 3% degradado; 11% qualidade 2; 35% qualidade 3; 28% qualidade 4; e 23% qualidade 5.

A diferença entre o degradado e o de qualidade 2 é a necessidade de reforma. Enquanto o stand de plantas no pasto degradado é insuficiente para uma recuperação, o pasto de qualidade 2 ainda pode ser restabelecido sem a necessidade de reforma.

É importante lembrar que entre 55% e 78% das pastagens amostradas estão em processo degradação. A primeira estimativa é obtida pelo acompanhamento de cada um dos pastos por imagem de satélite, identificando que a ano a ano perdem qualidade. A  segunda é obtida pela avaliação in loco, a partir da premissa de que todas as pastagens, um dia, deveriam estar no padrão de qualidade 5, de acordo com o critério adotado. A reinstalação da vegetação natural é o principal ponto, depois de concluído o processo de degradação.

Entre 2007 e 2016, a área total desmatada na Amazônia Legal foi de 7,5 milhões de hectares. No mesmo período, a agricultura avançou 10,2 milhões de hectares, enquanto a área de pastagens recuou 19 milhões de hectares.  A soma da área destinada à produção agropecuária recuou de 250,1 para 241,4 milhões de hectares, um saldo de 8,8 milhões de hectares que deixaram de ser explorados pela agropecuária.

A explicação está na revegetação em áreas de pastagens que já acumula 32 milhões de hectares em apenas 10 anos. São pastagens perdidas após completaram todo o ciclo de degradação,  totalizando prejuízos para os produtores e para a sociedade.

Isso ocorre porque a demanda tecnológica para aumentar a rentabilidade nas fazendas supera a demanda produtiva para liberar área de pastagens, o que acaba provocando exclusão de produtores e perda de áreas pelo processo de degradação.  A exclusão é consequência da heterogeneidade na adoção de tecnologia pelos produtores. Os pecuaristas mais ágeis intensificam mais rapidamente, ampliando a sua competitividade e acelerando a exclusão dos produtores mais lentos.

Portanto, o desafio não é liberar áreas para atender as demandas por terra de outras atividades, mas sim o que fazer com os produtores excluídos das áreas que irão sobrar.

Essa realidade altera todo o modelo de trabalho relacionado à sustentabilidade na pecuária.

Incentivar a busca por soluções em conjunto com o GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), que completa 10 anos em 2017, é essencial para que as decisões caminhem no sentido correto para solucionar os reais problemas.

Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo, sócio e coordenador de pecuária na Agroconsult

Fonte da NotíciaMaurício Palma Nogueira

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