A relação de troca entre a arroba do boi gordo e o bezerro deve piorar ao longo dos próximos anos, segundo avaliação de Mauricio Nogueira, coordenador do Rally da Pecuária, promovido pela Agroconsult em parceria com a Sociedade Rural Brasileira (SRB). “É mais fácil aumentar a produtividade na recria e na engorda, então estamos demandando mais bezerros, sem que a oferta aumente em igual proporção”, afirma.
Em evento em Presidente Prudente, oeste de São Paulo, na sexta-feira, o analista ressaltou a importância de pecuaristas adotarem novas técnicas para o aumento da produção por hectare como forma de se manterem no mercado. Segundo Nogueira, produtores já tentam compensar o preço mais alto no bezerro com ganhos na carcaça dos animais terminados. Nogueira afirma que a média era de 16,5 arrobas por boi abatido em 1997, em São Paulo. Em 2014, o peso médio passou para 19 arrobas. Mas nem mesmo os ganhos de produtividade têm sido suficientes para fazer frente à escassez de animais terminados em 2015. A firmeza de preços deve permanecer ao longo do ano.
“Se o preço do boi cair este ano, ele cai ‘para cima’. Isto é, mesmo que ele vá a R$ 140/arroba, por exemplo, ainda assim terá aumento ante 2014”, diz Nogueira. A situação crítica das margens dos frigoríficos e o aumento na oferta nas próximas semanas em virtude do período de estiagem também são fatores a pressionar cotações. “É evidente que o mercado sairá mais concentrado e precisamos ficar atentos ao impacto à carne e ao boi. Aposto minhas fichas que haverá pressão (sobre os preços), pois estamos entrando em um momento de baixa produção de pasto”, diz. Nogueira estima que 25 milhões de vacas não produzam bezerros anualmente no País e poderiam ser enviadas ao abate. Em cenário de inflação de 8,17% no acumulado dos últimos 12 meses em abril (medida pela IPCA), o consumo também deve ser prejudicado. “Não estou pregando uma baixa de preços, mas vivemos em um momento economicamente delicado”, pondera o analista.
Mercado externo – O crescimento das economias emergentes representa uma oportunidade para impulsionar as exportações brasileiras. Citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nogueira afirma que o Produto Interno Bruto (PIB) destes países será 52% maior em 2020, no comparativo com 2014, o que deve estimular a demanda por proteína animal. No entanto, a carne bovina deve ser a maior beneficiada. “A tendência é a de que esses países regionalizem a produção de frangos e suínos, que têm ciclos mais rápidos. Mas isso não deve ocorrer com o boi”, afirma. Nogueira também relativizou a posição da Índia como um dos grandes rivais do Brasil no mercado externo. De acordo com o coordenador do Rally, o país enfrenta problemas fundiários e mantém condições de abate precárias. “Além disso, a carcaça indiana tem média de peso de apenas 100 quilos. Eles terão de melhorar muito para competir com o Brasil”, defende.
Fonte: Renato Oselame*/Agência Estado
*O jornalista viajou a convite da AgroconsultFonte da NotíciaAgência Estado