O principal driver para o aumento da produtividade é o econômico, a busca pelo aumento do lucro. O avanço tecnológico possibilita melhor retorno financeiro e garante competitividade. O pecuarista, atento a essa realidade, vem desempenhando seu papel e há anos ampliando o pacote tecnológico e, consequentemente, reduzindo as áreas de pastagens. Essas áreas estão sendo repassadas para a produção de grãos, cana ou eucalipto ou sendo revegetadas naturalmente.
O resultado prático dessa mudança tecnológica pode ser contabilizado pelo efeito “poupa terra”, conceito inicialmente proposto pelo engenheiro agrônomo Geraldo Martha Júnior, da Embrapa. Seguindo esse raciocínio, a Agroconsult estimou que, com a produtividade de 1990, seriam necessários 420 milhões de hectares para obter o mesmo volume de carne produzido atualmente. Se a tecnificação não tivesse ocorrido, o Brasil seria obrigado a desmatar outros 250 milhões de hectares para manter a atual produção. Ou a produção seria significativamente menor e a carne bovina bem menos acessível ao consumidor.
O processo de degradação das pastagens também é mal interpretado. No Brasil, cerca de 45% a 50% das pastagens estão em degradação, o que não significa que a área está degradada, mas sim que está piorando ano a ano. Em estudo a campo, realizado durante o Rally da Pecuária, identificamos que apenas 2% a 3% do total das pastagens estão degradadas. O resultado pode ser extrapolado com segurança. A amostragem nesse estudo é aleatória, distribuída em 10 estados que concentram mais de 80% da produção pecuária e o Rally conta com três edições com resultados muito próximos. Consideramos degradados pastos em que não se pode mais fazer nada, sendo necessário replantio de toda a área.
Outro dado interessante do Rally, complementado por imagem de satélite, é que 40% do processo de degradação ocorre pela degradação agronômica, ou seja, com a substituição da pastagem por plantas invasoras.
Plantas invasoras representam o estágio inicial da recomposição florestal. Caso o produtor não adote medidas para conter o avanço, em poucos anos a área estará recomposta com a vegetação primária. Segundo estimativas da Agroconsult, estariam nessas condições cerca de 28 milhões de hectares apenas nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
A evolução da tecnologia não ocorre linearmente entre as atividades. Enquanto o ciclo completo representa a média da pecuária, a cria e a recria e engorda desenvolvem curvas diferentes no ritmo de tecnologia.
Em 2014, o lucro médio da pecuária aumentou 76% na cria, 132% no ciclo completo e 73% na recria e engorda. E para 2015 a previsão é de maior aumento nos lucros.
Na prática, são diversas as opções implementadas a campo que podem melhorar os resultados e desenhar uma relação diferente entre nível de tecnologia e resultado econômico. Vale lembrar que a falta de rigor com a gestão ou com a condução dos projetos pode comprometer o resultado esperado.
Quando são apresentadas as possibilidades e os resultados com a intensificação é comum que se questione a viabilidade destes níveis a campo. Ou que tais produtividades só seriam obtidas em casos especiais, nas fazendas que investiram recursos oriundos de outras atividades que não seja a pecuária.
É fato que a tecnificação demanda altos investimentos nas fazendas. Mas nada proibitivo que não possa ser feito ao longo dos anos. Se houver recursos de fora da fazenda, via investimentos, o processo se acelera antecipando os resultados.
Andando pelo campo e conversando com produtores, o Rally da Pecuária identificou cerca de 15% dos produtores operando com mais de 18@/ha/ano no ciclo completo.
A intensificação em estágios mais avançados já está no campo. Negar essa realidade apenas atrasará o embarque na tendência tecnológica. Esse atraso poderá se tornar um problema nos próximos anos, quando os preços não favorecerem mais a pecuária como agora
* Maurício Palma Nogueira é sócio e coordenador de pecuária da Agroconsult
mauricionogueira@agroconsult.com.br