Pecuaristas adiam aporte devido à baixa no preço do boi

Por Marcela Caetano

A queda de 9% entre fevereiro e julho foi puxada por escândalos e aumento da oferta de animais, aliados ao represamento de animais em 2016 para o abate

Rondonópolis (MT) – Os pecuaristas do Mato Grosso já estão adiando investimentos, em função da queda de quase 9% no preço do boi gordo no mercado interno, conforme apurou o DCI, durante o Rally da Pecuária. O cenário é reflexo do ciclo pecuário e também de escândalos que abalaram o setor.

A cotação da arroba recuou 8,75% no sudoeste de Mato Grosso no acumulado de fevereiro até meados de julho. No segundo mês de 2017, antes da deflagração da operação Carne Fraca da Polícia Federal (em março), a arroba era cotada a R$ 126, na mesma região. Cinco meses depois, o produtor está recebendo aproximadamente R$ 115.

“A oferta de animais teve aumento devido ao ciclo pecuário e ao represamento de animais em 2016 para abate neste ano”, acredita o sócio da AgroconsultMaurício Palma Nogueira.

Na ponderação da média brasileira o valor também registra queda de 9,26% de fevereiro até julho, saindo de R$ 131,40 para R$ 119,20. Em São Paulo, a retração foi ainda maior: de 14%, chegando a R$ 124,70.

A depreciação fez com que muitos pecuaristas mudassem os planos para este ano. “Muita gente opta por desacelerar investimentos em pacote tecnológico, mas é a decisão errada”, afirma Nogueira. “Na maioria das vezes em que o produtor desacelera, ele tem impacto maior na redução de faturamento do que na economia.”

Entre quem fez essa opção está proprietário da fazenda Três Barras (OX Pecuária), Gilberto de Vitto, de Poxoréu, na região sudeste do Mato Grosso. Na área de mil hectares, ele mantém um rebanho da raça nelore. “Hoje, trabalho com uma perspectiva de curto prazo e coloquei o pé no freio nos investimentos. Não vou reduzir a tecnologia, mas também não vou ampliar como esperava” , comenta.

Segundo ele, uma das metas para este ano era ampliar a área de pastagem adubada, de 210 hectares para 300 hectares. No entanto, o plano foi adiado em razão da baixa margem no mercado doméstico. Na propriedade, Vitto faz recria, engorda e confinamento.

Ele apontou uma queda de R$ 5 de junho para julho no preço da arroba. “Com a arroba a R$ 122 já estou trabalhando no vermelho. Nunca vi um ano igual a esse”, disse.

No período, o pecuarista também passou a vender à vista, algo que não tinha feito até então – em 11 anos à frente da fazenda. “Trabalho muito com boi a termo e passei a vender para diferentes frigoríficos para reduzir os riscos de não receber pelo gado entregue.”

O veterinário e administrador da GAP Genética, Jorge Luiz Oliveira Santana, em Jaciara (MT) também sofreu com o declínio no preço nos últimos meses. As vacas de descarte da propriedade, que trabalha com animais da raça brangus, eram negociadas a R$ 130 por arroba em fevereiro – considerando animais de 14 a 15 arrobas, em média – e passaram a ser negociadas a R$ 111 a arroba, em julho.

“Tivemos uma tempestade perfeita. A Carne Fraca, somada à cobrança do Funrural desde fevereiro e a delação do JBS, aliadas ao ciclo de baixa, fizeram com que os pecuaristas passassem a ter medo de que a crise se espalhe para todo o setor frigorífico”, avalia Santana.

Diferente de Vitto, o administrador da GAP Genética não trabalha no vermelho. “Para o produtor que é médio e tecnificado, como é o nosso caso, ainda é possível ganhar um pouco”. A propriedade de cria e recria, trabalha como suplementação a pasto e vai engordar animais a partir deste ano. A carne das fêmeas jovens é vendida em uma casa de carnes gourmet da região.

“Vamos brigar por ajuste de preços com os fornecedores de insumos e investir apenas no que for realmente necessário”, ressalta Santanta. /a repórter viajou a convite do Rally da Pecuária.

Fonte da Notícia
DCI

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