Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária
Convencionou-se, por dogma, associar o consumo de carne bovina com impactos negativos à sustentabilidade. Isso está em entrevistas, jornais, televisão, palestras, postagens, documentários e até em filmes de Hollywood. Todos estão embasados em informações incompletas e mal interpretadas. Uma mentira, mesmo que repetida insistentemente por todos, continuará sendo uma mentira.
E a ironia é que a verdade mostra exatamente o contrário. Quanto mais estimulado for o consumo de carne bovina, mais sustentáveis serão as práticas implementadas no campo.
Já estão sendo adotadas tecnologias que possibilitariam ocupar apenas 14 milhões de hectares para produzir toda carne brasileira em um ano. Hoje a pecuária ocupa 162 milhões de hectares.
Chega-se a este número a partir da análise do desempenho dos produtores que estão entre os 5% de maior produtividade no público pesquisado pelo Rally da Pecuária. A produtividade média desse grupo é 775 kg de carcaça/ha/ano, 11,7 vezes acima da média nacional. Pesquisas acadêmicas apontam potencial de produtividades ainda maiores.
A pecuária está respondendo às demandas em áreas cada vez menores, o que contraria outro senso comum, e igualmente equivocado, de que a atividade pressiona por desmatamento.
Embora, de fato, áreas desmatadas ilegalmente tendam a ser convertidas em pastagens, o que motiva isso é a ocupação e posse da área, não a produção de carne. E mesmo com essas ocorrências, a área de pastagens vem recuando ao longo dos anos, sendo hoje cerca de 15% menor do que no início dos anos 1990.
Essa diferença significativa entre os diversos níveis de tecnologia nos permite concluir que a produção acabará se ajustando aos produtores de melhor desempenho, forçando a saída dos que não se adaptarem.
Para evitar a exclusão do enorme contingente de produtores e suas famílias, é preciso planejar políticas públicas que facilitem o acesso às práticas modernas de produção. E o mais importante é garantir que o investimento seja recompensado, o que só poderá acontecer se houver mercado para escoar o que for produzido.
Quanto mais limitado for o mercado, mais rápido e intenso será o processo de exclusão. Essa situação, portanto, impactaria negativamente na sustentabilidade através do pilar social. Incrível que, mesmo nos dias de hoje, há quem não entenda que a inclusão econômica e o combate à pobreza são os maiores desafios do “S” na agenda ESG (Environmental, Social and Governance).
E a exclusão também aumenta o risco de impactos ambientais nas áreas ocupadas pela população afetada.
Quanto piores as condições econômicas, menos preservacionistas serão as práticas de produção. Para confirmar essa afirmação, basta analisar as proporções entre áreas ocupadas por assentamentos e produtores de baixa renda e a quantidade de focos de incêndios e avanços sobre áreas desmatadas ilegalmente.
A verdade sobre o consumo de carne bovina – e sua relação com a sustentabilidade – é contraintuitiva. Quanto mais carne for demandada, melhores serão as condições para recuperar os que estão em processo de exclusão, reduzindo os impactos sociais e, consequentemente, os ambientais.