A pecuária brasileira corre o risco de se tornar um sério problema social, mais do que ambiental. Nos próximos cinco anos, o setor deverá liberar 30 milhões de hectares de pastagens. Destes, 6 milhões deverão ser incorporados pela agricultura.
A avaliação é de Maurício Palma Nogueira, da Agroconsult. Essa liberação de área de pastagens deverá ser feita devido a um aumento de produtividade no setor: maior produção de carne por hectare.
O problema, segundo Nogueira, será o produtor que não conseguir acompanhar essa evolução da pecuária e ficar com uma produtividade inferior à da média do setor. “Ele será excluído da produção.”
Há grande probabilidade de o pequeno produtor estar nessa estatística e passar a fazer parte do problema social. O analista da Agroconsult alerta para o fato de que a cadeia tem margens baixas de lucratividade e riscos elevados. Quem não conseguir margens vai ficar excluído.
Boa parte das áreas de pastagens que serão desativadas virará florestas, muitas delas em áreas isoladas, sem uma conexão entre elas.
EFICIÊNCIA
O avanço da produtividade da pecuária já pode ser visto. Em 1990, a área de pastagem era de 190 milhões de hectares, com produtividade de 1,62 arroba de carne por hectare por ano.
Neste ano, a área é de 165 milhões de hectares, e a produtividade atinge 3,88 arrobas por hectare.
Uma das alternativas para a pecuária são as exportações. O ideal seria que, até 2020, o país conseguisse colocar 3 milhões de toneladas de carne no mercado externo. As exportações vão garantir produção e expansão do setor, segundo Nogueira.
Apesar das turbulências, setor cresce em 2017
A pecuária viveu um ano de turbulências em 2017. Mesmo assim, os números finais de exportações e de receitas do ano surpreenderam.
As exportações de carne bovina somaram 1,53 milhão de toneladas, superando em 9% as de 2016.
Com a valorização dos preços externos, as receitas atingiram US$ 6,2 bilhões, 13% mais do que em 2016, conforme dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
A Operação Carne Fraca, uma das que mais afetaram o setor, anunciava um desastre. De imediato, 60 países reagiram à operação, interrompendo compras ou pedindo explicações ao Brasil.
Em abril, as exportações recuaram 25%, em relação às de março, mês em que a Carne Fraca foi efetuada pela Polícia Federal.
Passados os primeiros meses, os mercados fechados foram reabrindo, e as vendas externas, voltando ao normal.
Ao contrário do desastre inicial, a Carne Fraca e os demais momentos de crise no setor —suspensão das importações dos Estados Unidos, Operação Carne Fria e a delação premiada de diretores da JBS— deixaram lições para os meses seguintes, segundo Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec.
Essas adversidades provocaram uma adequação da atividade e forçaram uma revisão de conceitos por parte de todos. A indústria ficou mais perto do produtor, e o governo buscou um controle maior da qualidade. “Com isso, o ano chegou ao final com perspectivas excelentes”, diz Camardelli.
O Brasil exportou carne bovina para 134 países em 2017. Os maiores importadores foram Hong Kong, China e Rússia.
Para 2018, a Abiec estima vendas externas de 1,68 milhão de toneladas e receitas de US$ 6,9 bilhões.
Esse crescimento poderá vir das exportações para países que atualmente estão fora da lista dos importadores do Brasil: Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia e outros.
Esses países, como o Japão, não aceitam o conceito de regionalização e impõem barreiras ao produto brasileiro porque o Brasil é considerado livre da febre aftosa, mas com a necessidade de vacinação.
O Japão é um caso à parte. As negociações com os japoneses não avançam, e a Abiec vai pedir ao governo que “engrosse a voz”, com a abertura de um painel na OMC (Organização Mundial do Comércio), segundo Camardelli