Quem estaria menos interessado na solução do desmatamento ilegal? Aqueles que perdem financeiramente ou os que conseguem recursos e mantém seus empregos com a manutenção do problema?
Por Maurício Palma Nogueira
A repercussão do pedido de demissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, proporcionou novas demonstrações de como o agronegócio é tratado com preconceito pela maioria esmagadora da imprensa brasileira. Logo depois do secretário Joaquim Álvaro Pereira Leite assumir a pasta, o noticiário já o “condenava” pela sua relação com o agronegócio. Prevalece a tese de que produção rural e meio ambiente não podem interagir.
Nos últimos anos ambientalistas tem adotado posturas professorais ensinando aos profissionais do agronegócio que meio ambiente e produção não são antagônicos. Mas são os primeiros a denunciar como escuso qualquer proposta de solução apresentada pelo agro.
Também assinaram cartas conjuntas e discorreram horas de entrevistas acusando os profissionais do agronegócio de negligenciarem a ciência, o conhecimento. Mas foi o agronegócio que dobrou a produtividade de cada hectare cultivado no país em menos de 20 anos. Foi também o agronegócio que mudou todo o sistema de produção baseado em técnicas de clima temperado para tornar o solo paupérrimo, típico de ambientes tropicais, em uma das maiores potências agropecuárias do planeta. E estamos apenas no começo, visto que a ciência já indica objetivos que as operações e orçamentos ainda não possibilitaram atingir.
E o que os especialistas do ambientalismo teórico apresentaram de resultados? Estudos, diagnósticos e projeções sensacionalistas são elaboradas com base em premissas equivocadas. Quando tais falhas são apontadas, suas teses são defendidas com ofensas e desqualificações. O fato é que não há nada de concreto em benefícios ambientais que não tenha sido proporcionado pelo próprio avanço tecnológico do agronegócio.
A ex-ministra Izabella Teixeira é sempre uma das vozes a elevar o tom contra as ações do atual Ministério do Meio Ambiente. Ela se vangloria pelo fato de o desmatamento ter atingido o nível mais baixo da história em seu governo, o que é verdade.
Mas também que foi durante a sua gestão que a curva se inverteu. Nos seus dois últimos anos, o desmatamento saltou 57,5% na Amazônia Legal, segundo dados do INPE, iniciando a tendência de aumento dos desmatamentos que se estende até o momento. É inegável que o desmatamento aumentou durante o governo Bolsonaro, mas não é verdade que tenha atingido níveis recordes, nem em área absoluta e nem em aumento sobre o ano anterior*.
Não se trata de acusar ou culpar a ex-ministra. Trata-se de entender a complexidade do problema para identificar soluções. Pesa a favor da atual gestão o fato de que estão atuando de forma diferente de tudo que foi feito. É possível que suas estratégias estejam erradas? Sim, claro. Mas da mesma forma é impossível que as estratégias comprovadamente erradas, ao longo dos anos, proporcionem resultados diferentes. Se estivessem corretas, o desmatamento só teria voltado a aumentar no atual governo, o que não ocorreu.
É fato que grande parte dos profissionais do agronegócio apoiam o atual ministério, mas está longe de ser um consenso. É verdade também que tanto Ricardo Salles, como Joaquim Leite, tenham relacionamento com o agronegócio. Mas não deixa de ser escandaloso o fato de que tal proximidade seja apresentada como motivo de suspeição.
Com um pouco mais de cuidado na checagem das informações, a imprensa mostraria que as perdas do agronegócio, provocadas pelo desmatamento, são imensas.
Além do impacto causado pela má imagem e pelo aumento nos custos nas relações internacionais, as perdas financeiras são diretas.
Os produtores competirão com produtos oriundos de novas áreas, incorporadas ilegalmente e que entregarão a sua produção a preços mais baixos. Áreas abertas são operadas com total ausência de tecnologia, o que impacta fortemente o mercado de insumos e serviços dedicados ao agronegócio. Ninguém vende nada para quem produz em áreas ilegais. A produção de áreas ilegais só pode ser direcionada ao mercado informal, impactando negativamente a agroindústria que competirá em um mercado mais restrito e com preços mais baixos. Há diversos outros prejuízos que o desmatamento ilegal proporciona ao agronegócio.
O agronegócio será o maior beneficiado com a solução do desmatamento ilegal.
A busca por soluções precisa ser focada em fatos checáveis e auditáveis. É evidente que denúncias precisam ser investigadas a partir de todo o aparato legal disponível. E, se for confirmado, que os culpados sejam punidos.
Mas é preciso lembrar que produtores denunciam, há décadas, casos de corrupção envolvendo órgãos de fiscalização ambiental em diversas partes do país. E há décadas tais denúncias são solenemente ignoradas pelos inúmeros ocupantes da pasta. Não deveria ser dada a mesma importância a esses casos? Não deveriam ser investigados para saber se estamos realmente diante de um desmonte ou de uma faxina?
Por fim, uma questão de raciocínio caso o bom senso não prevaleça.
Se for para julgar as opiniões de acordo com especulações embasadas em supostos interesses, quem estaria menos interessado na solução do desmatamento ilegal? Aqueles que perdem financeiramente ou aqueles que conseguem recursos e mantém seus empregos com a manutenção do problema?
Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária
Fonte da NotíciaAthenagro