Responsável pelo planejamento, metodologia e coordenação do Rally da Pecuária, maior expedição técnica do setor, e coordenador de Pecuária do Grupo Agroconsult, Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), com pós-graduação em Administração Rural pela Universidade Federal de Lavras (UFL). É consultor desde 1998, acompanhando empresas e analisando cenários e resultados econômicos nas cadeias produtivas de corte e leite. Nesta entrevista exclusiva, Palma Nogueira fala sobre os avanços da pecuária nos últimos anos.
É fato que o pecuarista está cada vez mais investindo em pasto e o agricultor em pecuária?
Sim, de forma ainda lenta o pecuarista tem melhorado os tratos culturais e a reposição nutricional das pastagens. Ele faz isso diretamente, com aplicação de insumos nos pastos, ou através de integração. O agricultor, especialmente no estado do Mato Grosso, vem investindo também na integração. E quando o agricultor entra na atividade, ele já entra com um pacote tecnológico mais elevado.
Em qual dos ciclos de produção (cria, recria, engorda, ciclo completo) o pecuarista tem investido mais em tecnologia? Por quê?
O investimento maior é na recria e engorda, tanto na média da pecuária nacional como na amostra de pecuaristas coletada pelo Rally da Pecuária. Isso ocorre porque a recria é a fase que mais responde financeiramente ao aporte tecnológico. A engorda vem em seguida. Durante muitos anos, todo o investimento em fomento e pesquisa foram direcionados à recria e à engorda. A cria ganhou espaço recentemente com a percepção de que a produção de bezerros acabaria por se tornar um gargalo ao crescimento da pecuária. Hoje temos uma pecuária muito mais madura do que há alguns anos. E ainda está amadurecendo.
Em relação à situação dos pastos, quais foram os principais levantamentos e resultados obtidos com o Rally da Pecuária 2015?
Entre 50% e 80% das áreas nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia estão em processo de degradação, porém apenas 4% estão efetivamente degradas. Classificamos os pastos em cinco níveis de qualidade. O pior nível é o que classificamos como degradado, quando não há mais stand de plantas suficientes para recuperação, ou seja, o pasto deve ser reformado. Quanto antes o produtor interferir nesse processo, menor o custo e o risco ambiental.
Durante a expedição técnica foi possível realizar encontros com os produtores. Como foi essa experiência e quais foram os principais temas abordados?
Os técnicos percorreram 63 mil quilômetros e realizaram 16 encontros – eventos regionais para discussão de tendências de mercado, cenários e iniciativas para aumentar a rentabilidade na pecuária, e o Circuito Rural – que contaram com a participação de aproximadamente 2,2 mil pecuaristas. Durante os eventos foram preenchidos 574 questionários com indicadores técnicos e informações relevantes sobre pecuária. Além de tendências de mercado, o Circuito Rural discutiu com os pecuaristas temas como: “21 arrobas em 24 meses: conheça o boi 7-7-7”; controle de invasoras e pastagens de alto desempenho; correção, fertilização e garantia da longevidade das pastagens; crédito, financiamento e linha ABC para a pecuária; a sucessão familiar no contexto da modernização contínua da gestão na fazenda; custos, resultados e tendências da aplicação de tecnologia na pecuária. Em 2016, o Rally deverá ocorrer entre abril e junho, com sete equipes técnicas e 16 eventos programados.
Qual é sua avaliação da produtividade nos últimos 20 anos? O pecuarista está produzindo mais com menos?
Sim, em 20 anos a produtividade da pecuária aumentou 2,2 arrobas/hectare/ano, um total de 124% de acréscimo na produtividade. Se produzíssemos o volume atual de carne bovina com a mesma produtividade da década de 1990, teríamos que ter desmatado outros 250 milhões de hectares. Além de “economizar” esse desmatamento potencial, entregamos 20 milhões de hectares para outras atividades e revegetação. A produtividade média atual é de 4,08 arrobas/hectare/ano.