Aportes podem chegar a até R$ 36 bilhões ao ano; expedição técnica inicia visitas a produtores e monitoramento de pastagens no próximo dia 16
A pecuária de corte brasileira aumentou a produtividade em quase 190% entre 1990 e 2022, mais que dobrando a produção de carne em uma área de pastagens cerca de 22% menor. Nesse período, o rebanho cresceu 38% e deve chegar a 202 milhões de cabeças em 2022, conforme levantamento da Athenagro, organizadora do Rally da Pecuária 2022/2023, a partir de dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), Pesquisa Pecuária Trimestral (PPT) e histórico dos censos agropecuários, todos do IBGE.
Até 2030, a tendência é de que os pecuaristas brasileiros invistam de 2,5 a 3 vezes mais, por ano, em aumento de produtividade, quando comparado ao valor investido entre 2011 e 2020. O montante é estimado entre R$ 28 bilhões e R$ 36 bilhões ao ano, segundo Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador da expedição técnica que avalia a pecuária de corte no país e estará em campo a partir do dia 16 de novembro, com patrocínio da Ihara e da Mosaic Fertilizantes.
Conforme os cálculos de Nogueira, nesse montante são considerados apenas os investimentos em aumento em produtividade das fazendas e não estão incluídos aportes feitos em substituição de ativos ou mesmo expansão de área. Os produtores estão sendo estimulados a aplicar recursos diante do cenário de demanda firme para atender tanto o mercado externo, como o interno.
Ainda assim, apesar do cenário favorável, os próximos anos não serão fáceis, segundo avaliação do coordenador do Rally. Alguns desafios a serem enfrentados pelos pecuaristas e frigoríficos para atender a demanda até 2030 são a elevação dos custos de produção e os juros mais altos para tomada de capital. Nos últimos cinco anos, os custos de produção em uma fazenda comum de pecuária de corte cresceram 12% ao ano, em média. Esse aumento foi causado pelo cenário global, impactado pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e pelo aumento nas cotações do dólar.
Aos desafios ainda se somam os riscos de que as exportações possam ser impactadas em razões de alguns problemas. O risco sanitário é sempre uma preocupação, embora esteja sob controle no momento. “Nas últimas edições do Rally da Pecuária, ficamos atentos aos hábitos e preocupações dos produtores nas diversas regiões, diante dos avanços das novas etapas do Programa de Erradicação da Febre Aftosa no Brasil”, lembra Nogueira. O consultor destaca que o Brasil tem uma fauna muito rica, sempre em contato com o rebanho bovino. Essa particularidade exige atenção redobrada dos produtores e dos agentes de fiscalização sanitária no país.
Outros riscos às exportações do Brasil envolvem a questão da agenda ambiental e riscos de decisões equivocadas na condução da política econômica. No caso da agenda ambiental, o problema do Brasil é restrito à comunicação. A evolução da produção nacional, assim como os dados da pesquisa em ambiente tropical, prova que a pecuária brasileira é a mais sustentável do mundo. Nogueira lembra que, nos últimos 30 anos, a produção mundial de carne bovina cresceu 31% diante de um aumento de 17% no tamanho do rebanho. No mesmo período, a produção no país subiu 128% com a elevação de apenas 38% no rebanho. “O dinamismo e o desempenho dos brasileiros nessas últimas três décadas são difíceis de serem compreendidos pelos outros países. Enquanto o mundo discute as metas que precisam ser atingidas até 2050, o Brasil vem transpondo tais metas desde 1990.”
No caso da política econômica, a preocupação sempre reside no risco de que sejam implementadas medidas que visem restringir as exportações com o objetivo de conter a inflação. “Trata-se de um erro que já foi comprovado por outros países”, reforça Maurício
Preços no mercado interno
No mercado interno de carne bovina, os preços recebidos pelos pecuaristas e pelas indústrias frigoríficas vem recuando desde o mês de março. A margem da indústria segue muito baixa, ou até negativa, dependendo do posicionamento de seus produtos no mercado. Atualmente, é possível dizer que o consumidor está sendo favorecido pelos resultados das exportações.
“Se não fossem as margens das exportações, os frigoríficos venderiam a carne mais cara ou pagariam menos pelo boi no campo. Como não é possível mudar os preços de venda, é bem provável que a pressão seria repassada ao produtor, com redução nas compras e, consequentemente, na oferta de carne. Na prática, seria desencadeado um processo de desestimulo à produção que elevaria os preços a médio e longo prazo”, explica o coordenador da expedição.
Embora os preços internos continuem recuando, essa queda não foi repassada ao consumidor. Isso ocorre porque o setor varejista, especialmente os grandes supermercados, mantiveram os preços, ou até aumentaram, em alguns casos.
Considerando apenas a operação envolvendo cortes desossados, o sobrepreço atual do varejo na comercialização de carne bovina está em 77,4%, calculado com base nos preços acompanhados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA). Está acima da média histórica do período entre 2011 e 2022. O markup do varejo para a carne bovina é mais que o dobro das carnes suína (36,8%) e de frango (33,25%).
Com este cenário, a disponibilidade per capita de carne registrou queda. No período entre 2018 e 2022, a queda foi de 5,2 quilos per capita. Mesmo com as exportações aumentando, a disponibilidade de carne bovina para o consumidor voltará a crescer a partir de 2023, tornando a carne mais acessível e recuperando a perda observada no período fortemente impactado por acontecimentos globais (peste suína africana, pandemia e guerra).
Novo formato do Rally da Pecuária
O Rally volta a campo em sua 11ª edição com novo roteiro de visitas a produtores e coleta de amostras de pastagens. Ao contrário das edições anteriores, a expedição ocorrerá ao longo de nove meses, com equipes dedicadas às visitas presenciais, levando informações aos produtores e técnicos de campo, e à realização de oito eventos regionais in loco, com temas relacionados à produtividade e sustentabilidade, além de dois eventos especiais – com foco no mercado de pecuária de corte – ampliando assim a abrangência do Rally.
No campo, a equipe técnica percorrerá, a partir do dia 16 de novembro, os estados de Goiás – saindo de Goiânia e percorrendo as regiões de Rio Verde, onde será realizado evento regional, e Nova Crixás – seguindo para a região de Gurupi, no Tocantins, e chegando na capital Palmas. Na sequência, os técnicos irão para as regiões de Redenção e Xinguara, no Pará, retornando a Palmas em 25 de novembro. A segunda equipe terá início em 11 de dezembro, deixando o Tocantins em direção ao Mato Grosso, onde percorrerá as regiões de Vila Rica, Ribeirão Cascalheira, Barra do Garças, Rondonópolis – onde será realizado evento técnico -, Cuiabá e Pontes e Lacerda, encerrando esta etapa em 17 de dezembro em Vilhena, Rondônia. As próximas etapas ocorrerão a partir de 23 de janeiro de 2023.