Após o Ministério da Agricultura confirmar nesta semana um caso de vaca louca em um bovino no Pará, o mercado aguarda o resultado do exame que vai nos dizer se o caso da doença é clássico ou atípico. Fontes do governo me informaram que até a próxima quinta-feira, dia 2, deve sair o resultado da amostra enviada ao laboratório da Organização Mundial de Saúde Animal (OMAS) no Canadá, que irá dizer qual o tipo da doença. A encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como mal da vaca louca, afeta o sistema nervoso do gado e não é contagiosa. Atualmente, não há tratamento ou vacina e há dois tipos:
- Caso clássico: ocorre em bovinos após a ingestão de ração contaminada com restos de animais, caso que nunca ocorreu no Brasil. Para o consumidor, há um risco ao consumir a carne bovina contaminada, mas ele é desprezível. Isso porque alimentar o gado com ração que contenha restos de animais é uma prática proibida.
- Caso atípico: ocorre de forma espontânea em animais devido à idade avançada dos bovinos. Neste caso, não há riscos para o consumidor final.
O caso confirmado nesta semana aconteceu em um touro de 9 anos em uma pequena propriedade no município de Marabá (PA). A propriedade possui 160 cabeças e já foi inspecionada e isolada preventivamente. O animal foi abatido, teve sua carcaça incinerada no local seguindo os protocolos sanitários, e segundo o Ministério da Agricultura, não foi alimentado com ração. A idade avançada do bovino e agora a informação de que ele foi criado apenas em pasto reforçam as expectativas de que se trata de um caso atípico. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro é composto por mais de 224 milhões de cabeças, maior volume da história. Dados da consultoria Agrifatto revelam que aproximadamente 30% dos animais no Brasil são terminados com o uso de algum tipo de ração. Esse uso é mais comum no segundo semestre do ano, quando há menor produção de capim.
Suspensão das exportações para a China
Devido ao protocolo sanitário firmado com a China, as exportações de carne bovina foram temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira, 23. Esse auto embargo está previsto no acordo entre os países que o caso de vaca louca seja atípico. Em 2019 e em 2021 o Brasil também registrou casos atípicos de vaca louca. Um levantamento realizado pela consultoria Agrifatto revela que em 2019, a China deixou de comprar carne bovina do Brasil por 10 dias. Já em 2021, os chineses ficaram mais de três meses ausentes das compras. Agora, há grandes incertezas sobre o período que o país asiático pode ficar sem comprar. Apesar de os últimos casos serem bastante diferentes, a consultoria vê uma sinalização positiva no encontro realizado entre o ministro Carlos Fávaro e o embaixador da China no Brasil. A Athenagro acredita que a retomada das exportações será mais rápida.
“A China em 2021 estava aumentando a produção interna de suíno e o preço aqui no Brasil [da carne bovina] estava bem mais alto então os chineses tinham interesse em dar uma pressionada [nos preços] e o mercado estava em uma condição diferente. Eu acredito que a China tenha interesse em voltar mais rápido, o que aceleraria o processo. Mas temos que esperar a confirmação do laboratório canadense. A chance é de confirmar o caso atípico e acredito que será bem mais rápido que da outra vez”, afirma Maurício Nogueira, sócio-diretor da empresa.
Fontes da indústria de carnes afirmaram que o protocolo assinado com a China é o único que automaticamente obriga o Brasil a realizar um auto-embargo das exportações caso exista a comprovação de vaca louca. Enquanto isso, entidades como a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) querem que o governo brasileiro renegocie o protocolo para que outros estados continuem enviando carne bovina aos chineses enquanto se investiga o caso do Pará. Até o momento, nenhum outro país importador pediu a suspensão dos embarques, mas não está descartado que isso aconteça. A Agrifatto indica que em 2021, países como Filipinas, Arábia Saudita e Rússia chegaram a anunciar suspensões a importação de carne bovina brasileira.
Impacto nos preços
Para o pecuarista brasileiro, os efeitos já são sentidos tanto no mercado à vista como no futuro. Quando a bolsa de valores do Brasil voltou do feriado de Carnaval, a cotação da arroba fechou com quedas acima de 5% para alguns contratos e as ações de frigoríficos como JBS e Minerva despencaram 4%. Até esta sexta-feira, o contrato de março/23 registrava um recuo de R$ 13,70, saindo de R$ 306,10 na sexta-feira e fechando para R$ 292,40. No mercado físico, a Scot Consultoria revelou que o mercado ficou sem referências de preços. Já para o consumidor final, o consenso entre os especialistas é que o preço da carne bovina deve ter pouca redução. Tanto o Itaú BBA como a Agrifatto indicam que o varejo deverá segurar os preços. Já a Athenagro relembra que em 2021, enquanto o preço da arroba do boi ao pecuarista caiu entre 13% e 16% em regiões do brasil, o valor da carne recuou entre 0,5% a 1%, o que é provável que aconteça agora com base no passado.
Fonte: Kellen Severo, Jovem Pan
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