O impacto ambiental do desmatamento é discutido há anos. Estatísticas cada vez melhores são elaboradas e apresentadas, sensibilizando um número crescente de formadores de opinião. Mesmo diante de todo o conhecimento disponível, pouco se discute em torno de propostas factíveis que possam eliminar o desmatamento ilegal com o menor impacto possível à população presente na região. Ao invés de soluções, as estatísticas parecem ir de encontro aos holofotes.
O agronegócio sempre leva um puxão de orelha em textos e reportagens, cobrado a se conscientizar sobre o assunto e garantir que o sucesso econômico do setor se expanda à área ambiental. Ambientalistas ensinam aos profissionais de botina que a proteção ambiental não é contrária ao desenvolvimento da produção.
Humildemente, esses profissionais engrossam fileiras em mesas de discussão, eventos e ações elaboradas por ambientalistas e estudiosos que se debruçam sobre o tema.
Indústrias frigoríficas, traders, associações, entidades de classe, indústrias de insumos e serviços, instituições financeiras destinam recursos e deslocam profissionais para debater, estudar, implementar, divulgar ações que ampliem a conscientização sobre essas questões no campo. Atendem ao chamado e, com sucesso, aumentam a porcentagem de produtores conscientizados.
O agro aceitou a responsabilidade. Sabe exatamente o seu papel no combate às ilegalidades. O assunto tem sido incorporado nas rotinas diárias, dentro e fora da porteira.
A ilegalidade praticada no campo é patrocinada por recursos que vem de fora do setor, por atores dispostos ao ilícito, muitas vezes criminosos em busca de ampliar seu patrimônio da mesma forma. Uma área desmatada no meio da Amazônia não vai se transformar em um shopping center, uma padaria ou escola particular. Ela vai se transformar em uma fazenda. Bovinos andam, se reproduzem, se valorizam e são difíceis de rastrear. É por isso que os criminosos são atraídos para a pecuária. A maior vítima desse processo é justamente aquele que trabalha na legalidade. O agronegócio é o maior prejudicado.
O principal protagonista do debate são as organizações ambientais. Inicialmente foram fundamentais na conscientização da questão ambiental. São ótimas em identificar problemas e quantificá-los. E melhores ainda na comunicação. No entanto, perdem-se no momento de encontrar soluções e implementá-las. A mesma humildade do agronegócio em escutar e aprender com eles não encontra contrapartida. Recusam-se a compreender a complexidade do agro e focar nas soluções. Com isso suas ações não evoluem e continuam buscando problemas, redimensionando e superestimando o que já é conhecido.
Muitas dessas organizações ambientais mobilizam as instituições privadas no Brasil em mesas de discussões. Apresentam-se focadas em discutir tecnicamente o problema, separar o agronegócio moderno dos criminosos e trabalhar para esclarecer ao mercado a diferença entre ambos. Mas, simultaneamente, financiam e divulgam campanhas difamatórias contra o agronegócio brasileiro na Europa. São os mesmos atores. Criam uma pressão lá fora e apresentam-se aqui dentro como parceiros para solucioná-los. Teoria conspiratória? Nada disso, basta visitar os sites e checar as marcas presentes em mesas de discussão sobre o tema no Brasil e em iniciativas que promovem o boicote aos produtos brasileiros na Europa.
Esse comportamento provoca uma cizânia no agro. Qualquer líder ou empresa que se dedique com maior vigor ao tema acaba sendo criticado e, finalmente, isolado. As iniciativas perdem força e não avançam. Diante de campanhas difamatórias partindo daqueles que se apresentam como parceiros em busca de soluções, a maioria dos profissionais do agro confunde a importância do tema, associando-o às pessoas ou organizações que desonraram a confiança depositada.
Já as qualidades do profissional do agro são diferentes. Ele não é bom em comunicação, há uma dificuldade de perceber questões de macro importância nas quais sua atividade está envolvida. Mas é excelente em implementar ações com sucesso, superar desafios e construir sua atividade mesmo em ambiente totalmente desfavorável.
Nas questões ambientais, qualquer avanço que possa ser comemorado foi obtido a partir de ações praticadas pelo agronegócio. De 1990 até 2019, o aumento da produtividade da pecuária e da agricultura possibilitou que 310 milhões de hectares fossem poupados de desmatamento ou devolvidos de forma voluntária e involuntária para recomposição da vegetação natural. Esse número resume estatísticas originadas pelo IBGE, INPE, Conab e Embrapa. Sempre que apresentado, é questionado por ambientalistas. Mas nunca, nem uma vez sequer, os ambientalistas foram capazes de desmentir os números.
Ainda resumindo as estatísticas, o desmatamento recuou 70% entre a média dos anos 2002 e 2005 e os níveis atuais dos últimos anos. Segundo o PRODES/INPE, foram desmatados, em média, 2,3 milhões de hectares naquele período e cerca de 730 mil hectares entre os anos 2017 e 2018. Em 2019, o desmatamento aumentou para 1 milhão de hectares. Péssimo sinal, mas ainda muito longe do recorde alardeado por propagandas difamatórias.
No mesmo período, o agro aumentou a produtividade em 85%. Somando todos os produtos originados da terra, em 2019 foram ofertados 1,25 bilhão de toneladas em 242 milhões de hectares. Principal alvo dos ambientalistas, as exportações de carne bovina, nesse período, aumentaram 90% com a produção 42% maior em uma área 10% menor.
E todo esse avanço foi executado à revelia do governo do momento. Estejam no poder sociais-democratas, progressistas ou conservadores, o agro não para. O agro não boicota.
Não existe pesquisador ou ambientalista que consiga relacionar, de forma honesta e embasada, a relação entre o desenvolvimento do agro e o desmatamento ilegal. Solicitar boicotes aos produtos brasileiros reduzirá a evolução dos últimos anos com prováveis consequências ambientais.
Ambientalistas não conseguem entender esta realidade. Ou fingem não entender. O diagnóstico, a quantificação dos impactos e a conscientização estão prontas. Agora é hora de continuar colocando em prática. E essa é praia do agro.
Está na hora do setor assumir o protagonismo de forma definitiva, mantendo na mesa apenas aqueles que estão comprometidos com as soluções e não com autopromoção ou bandeiras políticas.
Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo e diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária
Fonte da Notícia
Jornal O Estado de São Paulo