Quatro de cada cinco pecuaristas estão ameaçados na atividade, mas os que utilizam tecnologia e técnicas adequadas vão bem
O cenário para a pecuária há um mês se apresentava muito bom. Os preços da arroba estavam em alta e os insumos em baixa.
A avaliação atual continua indicando margens de ganho para os pecuaristas, pelo menos para os mais bem preparados, mas já há uma série de fatores novos que devem ser levados em consideração.
Um deles é o desenrolar da produção de grãos nos Estados Unidos. O clima adverso dificultou o plantio de milho no país e prejudicou a qualidade das lavouras.
O resultado é que a produção do cereal, estimada inicialmente em 382 milhões de toneladas, deverá recuar para 328 milhões nesta safra, segundo André Pessôa, diretor da Agroconsult.
Além da redução na produção de milho, há também problemas com a soja, embora em menor escala. A colheita da oleaginosa deverá recuar para 109 milhões de toneladas neste ano nos cálculos da Agroconsult.
Pessôa coloca ainda o câmbio na lista dos itens que podem influenciar a pecuária, devido às oscilações da moeda americana. O país é um grande exportador.
Para Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, o cenário mudou um pouco nas últimas semanas, mas ainda será rentável ao pecuarista.
A produção formal de carne cresce e as exportações serão recorde. Além disso, o abate informal cai e o confinamento tem crescimento constante. Neste ano, serão 5,97 milhões de animais confinados.
Apesar de todos esses itens positivos, Nogueira entende que a pecuária está em crise para muitos dos que atuam no setor.
Ele classifica como competitivos e com capacidade de gerar lucros apenas 7% dos pecuaristas. Outros 15% teriam condições de se tornarem competitivos, caso houvesse políticas públicas eficazes, acompanhamento de programas de comunicação e treinamentos no setor.
“Em suma, de cada cinco pecuaristas apenas um apresenta-se como viável”, diz Pessoa.
Na próxima semana, a Agroconsult e a Athenagro iniciam o 9º Rally da Pecuária, percorrendo 50 mil quilômetros em dez estados brasileiros.
O balanço das edições anteriores indica que, desde 1990, os pecuaristas perderam por degradação 30 milhões de hectares de pastagem, que se revegetaram.
O espaço utilizado pela pecuária caiu para 17,7% da área do país e a produção de carne subiu 124% nas últimas duas décadas.
A pecuária vai ficar cada vez mais concentrada no país. Vão sobreviver os que utilizarem mais tecnologia, e a produção brasileira tem grande potencial, na avaliação de Nogueira.
O consumo médio de carne bovina no mundo é de nove quilos por pessoa por ano. Utilizando dados do Rally da Pecuária, o diretor da Athenagro afirma que, se todos os pecuaristas brasileiros tivessem o potencial de produtividade que os 10% mais produtivos têm, o país garantiria, sozinho, um abastecimento de 19 quilos de carne por pessoa no mundo por ano.
Vaivém das Commodities – A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
Fonte da Notícia
Folha de São Paulo