Exportações, modernização dos frigoríficos e da produção pecuária nos tornou melhor preparados para enfrentar a pandemia do Covid-19.
Logo que a pandemia do Covid-19 avançou no Brasil, a primeira preocupação da sociedade foi com as prateleiras vazias. A lembrança da paralisação dos caminhoneiros e a situação dos países mais afetados provocaram uma corrida às compras.
Num primeiro momento, alguns produtos escassearam de fato, consequência do atraso no fluxo do abastecimento, que não estava preparado para a nova situação. Com o fechamento dos restaurantes, cantinas e refeitórios de empresas, as refeições passaram a ser realizadas nas residências, com mudanças nos pontos de vendas e nas categorias de produtos consumidos. A expectativa de redução da frequência de idas aos mercados também provocou aumento nas quantidades compradas. Ambas mudanças nos hábitos exigiram que indústrias e comércios se adaptassem. Em poucos dias tudo foi resolvido e os mercados ficaram abastecidos.
A isso se chama segurança alimentar, ou seja, a capacidade de manter a frequência e a oferta de alimentos à população.
A importância de um agronegócio forte e pujante, que muitos questionam, é colocada à prova em momentos como esse. Ser forte em commodities agrícolas não impede de sermos competitivos em outras áreas com maiores valores agregados. Não se trata de escolhas excludentes, mas sim de competitividade. O dinamismo do agro não pode ser penalizado pela ineficiência de outros setores, relação que inexplicavelmente ainda aparece em debates públicos.
No caso da carne bovina, em 2019 o Brasil exportou apenas 23% do que produziu, o suficiente para ocupar a primeira posição do ranking vendendo mais do que a soma dos segundo e terceiro colocados.
Entramos em 2020 com o campo e indústrias prontos para ofertar 35% mais carne bovina do que o total que será consumido pela população. Enquanto em outros países – mais ricos que o Brasil – faltam proteínas, aqui há sobra, excedentes exportáveis. Diante das incertezas com relação ao Covid-19, é o agro que coloca o Brasil em melhores condições para enfrentar essa pandemia. Também será o agro o setor que acelerará a saída do Brasil da crise econômica que se inicia.
Mantendo ainda o exemplo da carne bovina, de acordo com estudo encomendado pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), o agronegócio de carne bovina circulou R$618,5 bilhões em 2019. Cerca de 11% de todo esse valor foi pago em salários ao longo da cadeia produtiva.
Estima-se que o movimento deste recurso tenha ainda gerado cerca de R$90 bilhões em impostos e outros R$35 bilhões em salários nos empregos criados pelo efeito renda.
Para cada Real de margem bruta da operação de abate de bovinos – diferença entre o faturamento e o custo da matéria prima colocada na indústria – outros R$12,00 circularam na economia, movimentando as demais etapas do sistema agroindustrial de carne bovina. Trata-se de uma relação de alavancagem econômica.
Como as exportações representaram quase 25% do faturamento da indústria, tais recursos são essenciais para manter a viabilidade da operação.
E os benefícios das exportações são ainda maiores. Por mais contraditório que pareça, o sucesso das exportações de carne bovina contribui com a manutenção de preços mais acessíveis no mercado interno.
Cerca de 70% das exportações correspondem à soma de cortes do dianteiro e dos miúdos, justamente os que não fazem parte da preferência do consumidor brasileiro.
Se as vendas externas não existissem, o preço dos cortes bovinos no mercado interno teria que ser mais alto para que indústrias e fazendas mantivessem a produção.
Além da segurança alimentar, outra preocupação crescente no momento é com a segurança dos alimentos, ou seja, com a garantia da qualidade do que chega à mesa do consumidor.
Diversos países, especialmente os mais pobres, se esforçarão para aumentar a produção de proteínas nos próximos meses. Terão que superar algumas dificuldades, dentre as quais a própria saúde dos animais em produção. Além da Covid-19, que afeta os humanos, o mundo todo ainda sofre as consequências de doenças que recentemente impactaram a produção, como a peste suína africana e a gripe aviária.
Nesse quesito, o Brasil também está mais bem preparado, justamente pelo esforço em profissionalizar as cadeias produtivas e acessar mercados cada vez mais exigentes, dentro e fora do país.
O estímulo com as exportações fortaleceu a indústria fiscalizada pelo sistema federal. Em 22 anos, a produção de carne bovina fiscalizada com maior rigor pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento passou de 2,5 milhões de toneladas para 6,2 milhões de toneladas, um aumento de 140%, enquanto a produção total no período aumentou 60%.
E os ganhos não se resumem apenas à fiscalização e controle sanitário. Estima-se que entre 60% e 70% da produção de carne bovina com fiscalização federal seja desossada na própria indústria. Com isso, o risco de contaminação no processo de produção até o consumidor se reduz consideravelmente, além de melhorar a qualidade de refrigeração. Nesse momento, que se exige tanta higiene para evitar a infecção por Covid-19, o processo industrial é aliado da saúde pública, visto que os pontos críticos de controle de qualidade se resumirão às operações dentro das plantas frigoríficas. Mesmo em supermercados que mantém a manipulação no local, a carne chega embalada diretamente dos frigoríficos. O atendente apenas separa os cortes em porções de acordo com o gosto dos clientes.
A carne bovina é um exemplo de como o sucesso das exportações não é antagônico aos interesses da população. Essas conquistas não vieram da noite para o dia. Foram anos de investimentos e esforços dos profissionais que operam na cadeia produtiva mais alvejada pelo radicalismo ambiental, que não consegue se despir dos próprios preconceitos.
O resultado de todo o trabalho está aí: segurança alimentar e segurança dos alimentos.
Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo e diretor da Athenagro.
Fonte da Notícia
Athenagro