Maurício Nogueira revelou estimativa da Athenagro para o rebanho bovino brasileiro e comentou ainda polêmicas recentes sobre o desestímulo ao consumo de carne
2022 começou acelerado para o engenheiro agrônomo Maurício Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária. Antes da virada do ano, o consultor publicou o artigo “Nosso rebanho está superestimado” no Anuário DBO. No texto, ele opinou a respeito de alguns dados controversos em relação ao rebanho bovino brasileiro. Além disso, exemplificou alguns efeitos negativos que a confusão pode provocar para o futuro da bovinocultura no país.
Nesta quinta, dia 10, Maurício concedeu entrevista ao Giro do Boi para detalhar o assunto. Por exemplo, dentro do contexto, o Censo Agro do IBGE em 2017 apontou volume de 172,7 milhões de cabeças. Além disso, no mesmo ano a Pesquisa Pecuária Municipal, também do instituto, estimou em 215 milhões. Por último, o USDA projetou um rebanho bovino brasileiro na casa dos 275 milhões de cabeças em 2022.
Contudo, Maurício explicou as divergências e apontou que a divergência do IBGE, nesse sentido, não aponta necessariamente erro da instituição. “Então o censo vai e conta, perguntando ao produtor, enquanto o outro número vem das secretarias. E aí você acaba gerando no mesmo ano um rebanho de 172 milhões e outro dado de 214 milhões. Portanto, a diferença tem explicação e não é incompetência e nem erro do instituto. É causado por um problema burocrático aqui do Brasil”, ponderou.
QUAL O TAMANHO REAL DO REBANHO BOVINO BRASILEIRO?
Em seguida, Nogueira contou que a Athenagro bolou uma metodologia própria para calcular o rebanho bovino brasileiro baseando-se nos números oficiais. “Então nós pegamos a base município a município do censo e usamos a variação da Pesquisa Pecuária Municipal. Então o que muda de quantidade de rebanho de um ano para o outro, a gente acredita que esteja acontecendo mesmo. Assim, é o produtor informando mesmo. O rebanho dele aumentou e ele não pode aumentar um estoque que não existe. Ele vai aumentar ou diminuir o estoque real”, explicou Nogueira.
Enfim, a partir de metodologia, é possível calcular o rebanho real. “E aí a gente vai recalcular esse rebanho. E ainda colocamos outro número no cálculo, que foi considerar metade do número do abate oficial, do abate formal. Por que eu considero isso? Imagine que todo mês a gente abate bovinos, se eu pegar o total, eu imagino que pelo menos que o total abatido viveu pelo menos durante seis meses no ano. Então é uma forma de a gente ponderar o abate em estoque do rebanho. Assim, a gente chega no número que nós estamos trabalhando agora, em torno de 190 milhões de cabeças. Não é um número da Athenagro, é um número calculado pela Athenagro em cima dos números do Censo, da PPM e da Pesquisa Pecuária Trimestral”, especificou o consultor.
CONSEQUÊNCIAS
Em síntese, quais são as consequências de estatísticas divergentes sobre o real tamanho do rebanho bovino brasileiro? De acordo com Maurício, a iniciativa privada tem alguns prejuízos. Em outras palavras, os frigoríficos, por exemplo, podem projetar capacidade de abate de uma certa unidade com um número impreciso e acabar não atendendo a região em sua totalidade.
Da mesma forma, empresas que produzem e/ou importam insumos podem acabar errando em suas estimativas de volume. “Então esses números são irreais e acabam criando políticas públicas que prejudicam o andamento da pecuária, o investimento. Ou até a recompensa àquele produtor que está se tecnificando numa velocidade muito mais rápida do que a gente consegue medir.
SUSTENTABILIDADE
Em conclusão, o agrônomo lembrou ainda que as estimativas inconclusivas sobre o rebanho bovino brasileiro podem prejudicar as contas sobre emissões de carbono pela pecuária. “Se você está considerando um rebanho 40 a 50 milhões de cabeças maior do que ele realmente é, isso vai impactar também o peso do balanço de carbono na pecuária. O que é um absurdo”, lamentou.
Posteriormente, o diretor da Athenagro lembrou que o carbono que os bovinos emitem já fazem parte de estoque que já circula na atmosfera. “Enquanto o boi e a vaca não beberem gasolina, nós estamos emitindo um carbono que já estava na atmosfera. Não tem sentido a gente falar em emissões”, acrescentou
SEM MEIAS VERDADES
Por último, Nogueira comentou ainda as recentes polêmicas envolvendo campanhas publicitárias de companhias que desestimulam o consumo de carne. Acima de tudo, Nogueira reclamou que as campanhas devem ter a liberdade para defender quaisquer pontos de vista, desde que não minta sobre a pecuária de corte.
Em resumo, Nogueira destacou no artigo “A manipulação do conhecimento”, para o Summit Agro Estadão, o aumento de produtividade da pecuária. Nos últimos 32 anos, o rebanho bovino brasileiro cresceu quase 13%, a produção de carne cresceu na casa dos 110%, ao passo que a produtividade a pasto saltou em quase 150%. Finalmente, tudo isso em uma área de pasto que diminuiu em 16%.
“A opção das pessoas tem que ser mantida. Se você quer comer hambúrguer de jaca, coma. Agora não saia mentindo. O problema é a mentira. Eu não posso pegar uma tese embasada em falácias, em mentiras ou em meias verdades e sair por aí defendendo um modo de vida que não é verdade. Você confunde as pessoas”, reprovou o consultor.
Maurício defendeu que se eventualmente uma pessoa usa informação falsa para estabelecer seu ponto de vista, então ela possivelmente defende a posição errada. “Se você está defendendo uma posição e para você garantir essa posição você precisa mentir ou omitir, você está na posição errada. Então revise o que você está fazendo. O nosso problema não é a opção de o cara comer ou não comer carne. O nosso problema são as mentiras que estão sendo contadas para se fomentar essa opção”, concluiu.
RALLY DA PECUÁRIA
Antes de encerrar a entrevista, Maurício projetou ainda o início do Rally da Pecuária 2022 entre o final de março e abril, com um formato que se provou promissor em 2021.
Por fim, assista a entrevista com Maurício Palma Nogueira sobre o rebanho bovino brasileiro, sustentabilidade e polêmicas pelo vídeo que segue:
Fonte: Giro do Boi