A pecuária tem um entrave na aplicação de tecnologia. Os animais precisam se nutrir ao longo do ano todo, atendendo suas exigências de mantença, reprodução e produção.
A produção dos pastos, por outro lado, se concentra no período chuvoso e mais quente do ano. Em média, 70% a 80% da produção ocorre entre outubro e março.
O grande dilema da pecuária a pasto é equilibrar a oferta e a demanda de volumosos ao longo do ano. E o problema aumenta à medida que se intensifica as pastagens via correção, adubação e tratos culturais (herbicidas, inseticidas, etc). A resposta é desproporcional entre águas e seca, aumentando ainda mais o rigor da curva de estacionalidade dos pastos.
Existem diversas técnicas e estratégias para suavizar o efeito da estacionalidade. A maioria delas, no entanto, promovem um aumento pouco significativo na produtividade. Esse pequeno aumento, mesmo que o suficiente para impactar significativamente a dinâmica de liberação de áreas da pecuária, é insuficiente para elevar o lucro do produtor a níveis minimamente satisfatórios, quando comparados com o desempenho econômico da agricultura.
O confinamento é a únicas estratégias viável para compensar totalmente a curva de estacionalidade e permitir saltos significativos na produtividade.
Analisando os dados do Rally da Pecuária de 2014, concluímos inequivocamente a diferença de produtividade em sistemas que incluem ou não o confinamento nas operações.
Na figura 1 apresentamos os indicadores dos 416 produtores que responderam aos questionários, ou foram visitados pelo Rally da Pecuária. Filtramos os dados em produtividade média geral, produtividade sem o confinamento e produtividade apenas dos que incluem o confinamento. Consideramos as diversas atividades e suas interações.
No caso da engorda em confinamento, incluímos apenas os que usavam volumosos produzidos na propriedade. Suprimimos da análise aqueles que os compram, adotando resíduos industriais, resíduos de outras culturas ou volumosos produzidos por terceiros.
Não há dúvidas que o confinamento é essencial para a intensificação das pastagens.
Mesmo as fazendas especializadas em confinar, comprando bois magros e garrotes ou prestando serviços a produtores, existem simplesmente pela necessidade de atender a demanda dos animais que a produção do capim não suprirá durante o período seco. É essa dinâmica que alimenta a engrenagem do mercado de confinamento.
Ainda sobre os dados da figura 1, duas considerações são necessárias. A primeira é que a média da produtividade dentre os produtores pesquisados pelo Rally da Pecuária é o dobro da média nacional.
Portanto, mesmo as fazendas que não confinam já operam bem acima da média. Basta observar o caso do ciclo completo. Sem confinamento, na amostra do Rally, a produtividade em 2014 foi 7,9@/ha/ano. Na média nacional, a produtividade gira ao redor de 4@/ha/ano. Portanto, em termos médios, a importância do confinamento na pecuária de corte é bem mais significativa.
Comparando os índices das fazendas de ciclo completo que confinam, na amostra do Rally, a produtividade sobe para 175% a mais do que média nacional. Na recria e engorda essa diferença, entre as fazendas que confinam na pesquisa do Rally com a média geral, aumenta para 239%. E assim por diante.
A outra consideração sobre os dados da figura 6 é com relação à cria, que parecem contradizer a conclusão. Nos aprofundamos naqueles poucos casos e identificamos que os confinamentos nessas propriedades ocorriam situações mais adversas à boa produtividade.
Sejam essas adversidades causadas por questões edafoclimáticas ou por estratégias técnicas mal elaboradas e conduzidas, o confinamento era necessário para evitar a queda significativa no estoque do rebanho e, consequentemente, na produtividade.
Vale ressaltar que, nesses casos, os confinamentos não visavam a terminação, mas sim a manutenção dos animais ao longo dos piores meses. Preferimos manter os dados em nome da transparência em relação aos impactos e importância do confinamento.
O confinamento, como atividade estratégica, pode estar inserido em vários contextos em todas as atividades. Nesses casos, dependendo do tamanho da escala, é possível ratear custos e investimentos com as demais atividades da fazenda. Com isso, os investimentos por capacidade estática tendem a girar entre R$400,00 a R$500/cabeça.
A medida que o confinamento vai crescendo, aumenta também a exigência por equipamentos, maquinários e estrutura. Isso se deve à operacionalização e garantia dos resultados de um projeto cada vez maior. Os investimentos começam a se aproximar dos R$1.000,00 por cabeça em capacidade estática.
Resultados econômicos com investimentos maiores são ainda mais dependentes de escala.
Frequentemente, confinamentos, que foram implementados como estratégia para o aumento da produtividade da fazenda, começam a caminhar para um misto entre animais próprios e animais comprados.
Caso a demanda por escala seja maior do que o capital disponível para totalizar investimentos e compras dos animais, o projeto pode evoluir para a prestação de serviços, em regime de boiteis, ou parceria com frigoríficos.
Outros projetos de confinamentos já são concebidos como objetivo final, visando a compra de animais ou parcerias e prestação de serviços. Em todos os casos, o planejamento da concepção e a rigorosa execução do plano serão de fundamental importância para o sucesso do projeto.
Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, sócio e coordenador de pecuária da Agroconsult – mauricionogueira@agroconsult.com.br
Carolina Magnabosco Ribeiro é economista é analista da Agroconsult – carolina@agroconsult.com.br
Parte do artigo escrito para o 10º. Encontro sobre Confinamento, da Coan Consultoria