O ano de 2014 foi um dos mais rentáveis para a engorda intensiva nos últimos dez anos. Favorecidos pela alta da arroba, os produtores obtiveram lucro de R$ 200 a R$ 500 por cabeça, dependendo do projeto e do seu nível de eficiência operacional. Mesmo assim, a atividade não cresceu como se esperava. Segundo a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), foram tratados a cocho, no Brasil, 4,16 milhões de cabeças, em contraste com 4 milhões no ano anterior, um aumento de apenas 4%, bem inferior aos 25% previstos pela entidade no começo de 2014. O levantamento de campo realizado por técnicos da empresa de nutrição animal Tortuga DSM também registrou percentual semelhante (3,6%), totalizando 4,25 milhões de animais confinados, ante 4,1 milhões constatados pela empresa em 2013. Já a consultoria catarinense Agroconsult projetou um número levemente maior: 4,66 milhões de cabeças, em contraste com 4,38 milhões do ano anterior (crescimento de 6,3%). Essa diferença em relação aos demais levantamentos, porém, é em razão do fato de que a empresa trabalha com um conceito mais amplo de “engorda intensiva”, que considera tanto os confinamentos tradicionais quanto a suplementação a pasto em proporções superiores a 2% do peso vivo. A Agroconsult não sabe dizer quantos animais foram engordados pelo sistema convencional e quantos no chamado “novo semi”, mas já está adaptando sua metodologia para diferenciá-los. Esse número é preliminar e será revisado em junho.
Incremento – A pesquisa feita pela Minerva Foods em seis dos sete Estados em que atua (São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Minas Gerais e Tocantins) também registrou alta no número de animais engordados no cocho. “Em 2014, os produtores que contatamos por telefone disseram ter confinado 2,304 milhões, em contraste com 2,123 milhões em 2013, um incremento de 8,5%”, explica José Amaral, gerente de Inteligência de Mercado do Minerva. Como a pesquisa da empresa é parcial, não incluindo Estados como Mato Grosso, que apresentou queda de 12,9% no número de animais confinados segundo o Imea (Instituto MatoGrossense de Economia Agropecuária), é natural que ela tenha registrado um avanço maior da atividade, porém também dentro de padrões moderados.
Percepção de risco – A explicação para o confinamento ter crescido no País abaixo da expectativa inicial de 20% foi a insegurança dos produtores, no primeiro semestre, em relação ao comportamento da arroba, associada à falta de animais magros para engorda a preços atrativos.
Estimativas variam entre 4,1 milhões e 4,3 milhões de cabeças terminadas no cocho
No início do ano, o mercado futuro não sinalizava alta nos meses de maior desova dos confinamentos (outubro/novembro), o que deixou muitos produtores com um pé atrás. Para piorar a situação, o mercado de reposição iniciou o ano superaquecido. O preço do bezerro saiu de R$ 869,07, em janeiro, no Estado de São Paulo, para R$ 1.011,83 em abril, conforme levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP). “Esse cenário comercial controverso intensificou a sensação de risco entre os confinadores, causando certa inércia na tomada de decisões”, salienta Marcela Luiza Moura, coordenadora de Inteligência de Mercado do Minerva. Muitos produtores revisaram suas metas para o primeiro giro. “Ficaram com medo de amargar prejuízos, já que a reposição representa de 70% a 80% dos custos da atividade”, acrescenta Marcos Baruselli, coordenador nacional de Bovinos de Corte e Confinamento da DSM Tortuga, empresa que atendeu 1,45 milhão de bovinos terminados a cocho no ano passado.
Quem adotou essa estratégia preventiva, contudo, foi surpreendido pela alta do preço da arroba. A partir de agosto, ele não parou mais de subir, até atingir a média de R$ 143,10 em novembro, o valor mais alto da série de cotações deflacionadas do Cepea em seus 20 anos de existência. A cotação anual elevou-se em 25,3%, segundo a instituição. Simultaneamente, os preços dos insumos caíram. “Estimamos que os custos alimentares com dietas típicas à base de milho tenham se reduzido em 15% ou 20% no segundo semestre”, informa Bruno Andrade, gerente executivo da Assocon. Quem não pôde aproveitar essa oportunidade comercial procurou produzir carcaças mais pesadas. Quem pôde fez um segundo giro reforçado. Isso evitou que o número de bovinos confinados caísse em 2014. Com custo/benefício favorável, muitos confinadores continuaram engordando animais em dezembro e janeiro. Somente no Mato Grosso, os bons ventos do segundo semestre foram insuficientes para evitar queda no número de animais arraçoados, fenômeno que se verificou principalmente nos grandes projetos, que tiveram dificuldade para captar bois magros. Verificou-se também, nesse Estado, uma migração de animais para o sistema intensivo a pasto (“novo semi”).
Ótimo retorno – Para Hudson Castro, gerente nacional de Negócios de Bovinos de Corte da empresa de nutrição animal Nutron/Cargill, 2014 foi um ano de incertezas, mas também de boas surpresas. “O confinador obteve um dos melhores resultados financeiros dos últimos tempos. Quem apostou forte na atividade teve motivos para comemorar. Pena que o cenário inicial confuso tenha atrapalhado o primeiro giro”, lamenta. “A expectativa de que a engorda intensiva começasse mais cedo não se confirmou, por causa de questões comerciais e do prolongamento da estação chuvosa em alguns Estados, como o Mato Grosso”, lembra Castro, ressaltando que a empresa foi responsável pelo Segundo Fernando Saltão, diretor dos conarraçoamento de 1,1 milhão de animais em 2014, 20% a mais do que em 2013.
Retorno ótimo – Alex Santos Lopes, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, também destaca os bons resultados do confinamento no ano passado. “Muitos produtores tiveram retorno de 15% sobre o capital investido”, afirma. Maurício Palma Nogueira, analista da Agroconsult, reforça essa visão. Segundo ele, em valores reais, corrigidos pelo IGP-DI, o lucro médio obtido pelos confinadores no ano passado foi o mais alto desde 2001 e 4,8 vezes superior ao de 2013. Subiu de R$ 6,12 para R$ 29,47 por arroba engordada no cocho. Mesmo os boitéis, que costumam trabalhar com margens apertadas, tiveram bom lucro, embora não tenham conseguido lotar suas instalações em algumas regiões. Segundo Fernando Saltão, diretor dos confinamentos do Grupo JBS, que prestam serviços para terceiros, faltou boi para engorda, o que elevou os custos fixos operacionais e prejudicou o ganho em escala desses projetos. O número de animais alojados nas instalações da empresa caiu de 228.742 cabeças em 2013, para 160.342, em 2014. “Foi um ano bom para o dono do boi”, salientou. Apesar de ter entregado dois confinamentos que arrendava em São Paulo (Pereira Barreto e Guapiaçu), a Marfrig Foods se manteve firme na atividade, ampliando suas instalações próprias em Porto Feliz (SP), Mineiros (GO) e Campo Novo do Parecis (MT). Segundo José Pedro Crespo, diretor de confinamento e Compra de Gado, a aposta maior agora está nas parcerias com confinadores próximos das unidades de abate da empresa, seja para prestação de serviços, seja para formalização de contratos de fornecimento.
Boas perspectivas – A percepção das fontes ouvidas pelo Anuário DBO é a de que 2015 será um ano favorável à atividade, com a arroba valorizada e insumos a preços acessíveis, porém o boi magro continua assustando. “Ainda é muito cedo para fazer previsões, mas podemos dizer que o número de animais terminados em confinamento ou em sistema de alta suplementação a pasto (mais de 2% do peso vivo) vai aumentar em 2015. O que for possível fechar operacionalmente será fechado”, diz Maurício Nogueira, da Agroconsult. Bruno Andrade, da Assocon, também é cauteloso quanto a números, mas aposta na expansão da atividade. “Todo ano ela aumenta um pouco, por causa da intensificação da pecuária”, ressalta. Espera-se um crescimento mais forte em Estados “emergentes” no uso de tecnologias, como Bahia, Tocantins e Minas Gerais. Neste último, o confinamento deslanchou no ano passado (cresceu 7%, segundo a Assocon, e 43%, segundo pesquisa do Minerva).
Fonte da Notícia
DBO