Falta de boi gordo tem levado frigoríficos à ociosidade
É o velho e paradoxal Brasil. Nesta semana, durante a divulgação dos resultados do Rally da Pecuária, em São Paulo (SP), havia bastante otimismo por conta do sinal verde dado pelos EUA para as exportações de carne brasileira. E mais: tudo indica que o Japão deve retomar a exportação de carne termoprocessada e também in natura – essa última nunca teve acesso ao mercado do país asiático.
Pois não é que hoje, lamentavelmente, as manchetes focam a suspensão das atividades da unidade frigorífica da JBS Friboi em Cuiabá (MT). Leio no Diário daquela cidade que cerca de 500 empregos foram eliminados. A decisão é explicada pela baixa oferta de matéria-prima, ou seja, não há boiada pronta para o abate, o que leva à ociosidade da indústria.
O preço alto do bezerro é um dos motivos que tem prejudicado a engorda. Em reportagem que fiz para a edição de março de Globo Rural, foi relatada a dificuldade para encontrar bezerro tanto em Mato Grosso como em Mato Grosso do Sul. Neste último, a cotação da cria aumentou expressivos 41% de dezembro de 2013 para o mesmo mês em 2014. E continuou subindo agora em 2015.
Maurício Nogueira, analista da Agroconsult, que promoveu o Rally da Pecuária, previu na reportagem que a tendência era de algumas unidades frigoríficas fecharem suas portas diante do cenário de escala curta. Tudo indica que ele tinha razão.
Por sinal, o Diário de Cuiabá lembra que a própria JBS já havia fechado outra unidade do grupo há 60 dias, em São José dos Quatro Marcos, Mato Grosso.
E a escassez de bovinos deverá persistir neste ano todo, segundo o IBGE. Importante informação vem daAssociação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). É que o Estado está ofertando nesta temporada o menor estoque de bovinos machos – com mais de 24 meses – dos últimos 9 anos. São eles, nessa faixa etária que movimentam as escalas de abates dos frigoríficos e preenchem a capacidade instalada, segundo o Diário.
E duas informações cruciais foram dadas na divulgação dos resultados do Rally da Pecuária: André Pessôa, também da Agroconsult disse que a jornada pelas propriedades constatou “uma revolução técnica sem precedentes nas fazendas”. Eu deduzo que a evolução tecnológica acelerada deve facilitar a oferta de bois prontos nos próximos anos, dando fôlego à indústria. Já Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira, presente no evento, não acredita em queda no consumo de carne no país. Segundo ele, está havendo uma migração dos cortes mais caros para os mais acessíveis ao bolso do consumidor num contexto de economia trôpega.
Certo também é que a cotação da arroba do boi não deverá retroceder. Também é cristalino que o preço da cria seguirá em ascensão, dificultando a oferta de bois terminados e a vida dos frigoríficos, conforme previu Maurício Nogueira há três meses.
Eu terminava esse texto quando pousou em minha mesa uma notícia quente. A JBS concedeu hoje férias coletivas a 400 funcionários da sua unidade em Nova Andradina (MS). A paralisação está prevista para o dia 8, próxima quarta-feira. Motivo: baixa disponibilidade de matéria-prima na região.
POR SEBASTIÃO NASCIMENTO