Rebanho bovino no Pará: nos próximos 20 anos, a pecuária terá de dar um salto de produtividade para atender à demanda e cumprir as regras ambientais
Um ano após firmar um acordo de cooperação técnica com o Ministério Público Federal (MPF) na área de sustentabilidade ambiental da cadeia produtiva de carne bovina, a Abiec, associação que representa os principais frigoríficos do país, vai apresentar hoje a procuradores federais os primeiros resultados da iniciativa. A partir de trabalhos realizados por consultorias, a entidade fez um diagnóstico dos investimentos necessários para a regularização ambiental dos pecuaristas e o cumprimento integral do Código Florestal até 2035.
No horizonte dos próximos 20 anos, a pecuária terá de dar um salto de produtividade se quiser atender à crescente demanda internacional por carne bovina e ao mesmo tempo cumprir o Código Florestal. Em outras palavras, a ordem é produzir mais bovinos em uma área de pastagem cada vez menor.
Diante desse contexto, a consultoria Agroicone traçou um cenários para as próximas duas décadas, prazo legal para cumprir o código. Para que o país se adeque totalmente ao Código Florestal, os pecuaristas teriam de investir cerca de R$ 25 bilhões ao ano apenas em intensificação, fazendo aportes em nutrição animal, genética, confinamento e pastagens, dentre outros.
Conforme o diretorgeral do Agroicone, Rodrigo Lima, se o Brasil cumprir integralmente o Código Florestal, com Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal, a área de pastagens será reduzida em 23,4 milhões de hectares, recuando para 159,4 milhões de hectares. Em 2010, a área de pastagens somava 182,8 milhões de hectares, conforme estimativa do Agroicone.
Lima lembra que, como a tendência é que a agricultura aumente a área plantada nos próximos anos, a pecuária será a maior responsável por ceder áreas, o que exigirá aumentos de produtividade. Atualmente, a pecuária brasileira ainda é pouco produtiva se comparada com importantes países produtores de carne, como os EUA e a Austrália.
Pelas projeções do Agroicone, os investimentos de R$ 20 bilhões ao ano elevariam a produtividade média da pecuária brasileira em mais de 50%, das atuais 4 arrobas por hectare ao ano para 6,4 arrobas. Com isso, o Brasil conseguiria ampliar a produção anual de carne bovina de cerca de 10 milhões de toneladas para 15 milhões de toneladas.
Na avaliação de Lima, a intensificação da pecuária é um processo que já vem ocorrendo, mas o Código Florestal representa um incentivo. No entanto, ele adverte que investir R$ 25 bilhões por ano não é algo trivial. Atualmente, afirma, os pecuaristas já vêm investindo R$ 16,8 bilhões ao ano em intensificação, ou seja, o setor teria de aumentar em mais de R$ 8 bilhões.
“Mas o grande desafio é que precisa de crédito”, afirma Lima, ressaltando que linhas de crédito como o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) terão de ganhar “envergadura”. O diretor da consultoria também alerta para a dificuldade dos produtores de menor porte. Hoje, da área de 182,8 milhões de hectares de pastagens que existe no Brasil, 80 milhões são de uma pecuária “ineficiente”, com produtividade de até 3 arrobas por hectares ao ano.
A questão é que, nesses níveis de produtividade, os pecuaristas sequer conseguem recursos para investir em regularização ambiental. “Pelas nossas contas, o pecuarista de baixa produtividade precisa de R$ 800/ hectare de retorno para regularizar”, afirma Leila Harfuch, pesquisadora do Agroicone. Mas o que essa pecuária vem conseguindo hoje é R$ 100 por hectare.
Além do estudo do Agroicone, a Abiec também vai apresentar hoje resultados de uma pesquisa feita pela Agroconsult para ter um termômetro da adequação dos pecuaristas ao Código Ambiental Rural (CAR). De um total de cerca de 470 produtores entrevistados na expedição técnica “Rally da Pecuária”, 87% responderam que fizeram o CAR ou estão se regularizando. Os produtores têm até maio de 2016 para se adequar ao CAR.
No caso dos dados do Rally, o coordenador da área de pecuária da consultoria, Maurício Nogueira, ressalva que o públicoalvo da expedição técnica é mais produtivo do que a média nacional e que, portanto, os números não podem ser extrapolados para todo o país, ainda que sejam um indicativo.
Na apresentação, a Abiec também vai apresentar um protocolo, com fases de adequação, para que os frigoríficos de médio e pequeno porte também comprem bois, especialmente no bioma amazônico, seguindo os critérios já adotados pelos grandes frigoríficos, vetando compra em áreas de desmatamento ilegal, que exploram o trabalho escravo ou que estão em áreas indígenas.