Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
A entressafra de boi gordo, que costuma atingir o pico no segundo semestre, não deve trazer dor de cabeça para os frigoríficos brasileiros em 2016. Mas, ao contrário do que se possa supor, não é por boas razões. O consumo de carne bovina no país está tão fraco que tende a impedir movimentos consistentes de alta da arroba do boi. Além disso, a cotação do animal está em nível mais elevado do que o visto em 2015.
Ainda que tenham atingido o menor patamar em agosto e devam se recuperar ao longos dos próximos meses, não há grandes chances de os preços “explodirem”, diz o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira.
“O preço médio da entressafra deve ser menor que o preço médio da safra”, avalia a sócia-diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel. Se em meados do primeiro semestre – período de safra – chegou-se a falar que a arroba do boi gordo chegaria a R$ 170 na entressafra, as avaliações agora são bem mais comedidas. “Acho que R$ 160 é o teto”, projeta a analista.
Depois de atingir mais de R$ 158 a arroba em plena safra – em abril -, os preços agora estão próximos dos R$ 152 por arroba, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa para o animal no Estado de São Paulo.
Nesse cenário, a demanda prevalece sobre a oferta para determinar o preço do boi gordo. “Vemos oferta restrita acompanhada de queda de preço. Então, o que está preponderando é a queda do consumo “, afirma a analista.
Desde 2015, os abates de bovinos vêm caindo intensamente – quase 10% no ano passado e mais 4,5% estimados pela Agrifatto para este ano. Mas a queda da demanda interna foi ainda maior. Pela primeira vez em 15 anos, o consumo per capita da carne bovina no Brasil está abaixo de 30 quilos por ano, observa Lygia.
O quadro também afeta o preço da carne bovina. Conforme levantamento da Agrifatto, o preço médio da carne bovina (em equivalente carcaça) no atacado ficou, em média, em R$ 142,15 por arroba em julho, praticamente os mesmos R$ 142,30 por arroba de igual mês do ano passado. Portanto, houve uma queda em termos reais. Por outro lado, o preço do boi gordo subiu 9,3% na mesma comparação.
Com isso, a margem da indústria que atua no mercado doméstico fica mais pressionada. “Os frigoríficos pequenos são os que mais sofrem o baque e especialmente os de São Paulo”, avalia o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira.
De acordo com a Agroconsult, a margem bruta dos frigoríficos ficou em 17,47% no Brasil em julho, ante 21,59% de igual período do ano passado. Em São Paulo, essa margem ficou em 5,32%, ante a média 14,84% um ano antes. O indicador de margem bruta da consultoria é calculado pela diferença entre o preço do boi gordo e o preço de venda dos cortes desossados, do sebo bovino e do couro.
Apesar da margem menor, Nogueira diz que a situação dos grandes frigoríficos é mais “favorável”, por conseguirem exportar, ainda que a recente valorização do real seja uma notícia negativa para eles.
Diferentemente do que ocorre no mercado interno, a demanda externa vem crescendo. No acumulado de 2016 até julho, as exportações brasileiras de carne bovina (in natura e processada) cresceram 10%, para 818,2 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira de Frigorífico (Abrafrigo).
Em julho, no entanto, as vendas externas diminuíram 6%, o que poderia ser um sinal de alerta para os frigoríficos brasileiros. No entanto, Nogueira argumenta que essa queda é pontual, fruto da estratégia dos frigoríficos brasileiros de segurar as vendas para a China para obter preços melhores. Na avaliação dele, os embarques devem começar a retomar o ritmo ainda neste mês.
Fonte da Notícia
Valor Econômico