Por Nayara Figueiredo
Em intensidades diferentes, pecuarista, indústria e varejo devem experimentar valores menores na proteína. Saída está em elevar as exportações que, em janeiro, subiram 13% na variação anual
São Paulo – O excesso de oferta de gado no mercado, impulsionado pelo abate de fêmeas, pressionará os preços pagos ao longo da cadeia. Desta vez, até mesmo o varejo, que costuma praticar o menor repasse, tende a arrefecer o custo da carne bovina ao consumidor final.
A disponibilidade de animais é grande, em linha com a redução nas despesas com bezerros para reposição do rebanho. Desde o início do ano, o indicador do boi gordo Esalq/BM&Fbovespa acumula queda da 2,57%, em relação ao fechamento da quarta-feira (15), de R$ 145,09 por arroba. Em doze meses, o recuo chega a 5,73%.
“Em seguida, a indústria se depara com desvalorização nas cotações, porque apesar da consciência de que mantendo o abate haverá queda no preço da carne, existe um parque fabril que precisa ser sustentado”, explica o coordenador de pecuária da consultoria Agroconsult, Maurício Palma Nogueira.
No final da cadeia, o varejo mantém despesas específicas, mas não como as da infraestrutura de um parque industrial. No entanto, “o segmento varejista também terá que fazer concessões de preços, caso contrário perderá para a concorrência”, enfatiza o especialista. Sem arriscar números, Nogueira comenta que a proporção esperada é de retrações mais profundas na arroba do boi e ao frigorífico, ao passo que o varejo deve registrar só pressões moderadas.
Para o diretor executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, a demanda será a mentora da intensidade da queda dos índices.
O abate de fêmeas ocupa um espaço adicional entre as preocupações do setor. O presidente-executivo da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, comenta que essa medida sinaliza que haverá dificuldade em conseguir bois terminados no médio e longo prazo.
Uma saída importante para minimizar os impactos do excesso de oferta é alavancando as exportações. De acordo com levantamento divulgado ontem pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o embarque da proteína bovina atingiu 112 mil toneladas em janeiro, ganho de 13% em relação ao igual mês de 2016. As negociações geraram faturamento de US$ 436 milhões, que representa incremento de 16% na mesma comparação.
Conflito de valor
Historicamente, o diretor da Acrimat conta que nos momentos em que a arroba do boi recua, o reflexo no varejo não acontece. Um estudo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revela que há uma diferença de 127% entre a valor de saída do boi da propriedade e a sua chegada na mesa do consumidor daquele estado. Desde de 2005, o preço o quilo da carne subiu 284% no varejo, contra a alta de 157% ao pecuarista.
No âmbito nacional, o especialista da Agroconsult avalia que há uma série de fatores na composição do preço no varejo. Porém, o mark up (intervalo entre o valor do produto e seu custo de desossa do varejista) ficou em 151,7% na compra de carcaças em janeiro de 2017, ante 127% um ano antes. A média é de 134%. No caso dos cortes desossados, esse percentual chega a 80,6%. Na mínima, verificada em dezembro de 2015, o índice bateu 61,7%. Os dados são do Instituto de Economia Agropecuária (IEA), compilados pela consultoria.
O superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Márcio Milan, esclareceu ao DCI que o varejo trabalha com um período médio de 10 dias de estoque. Ainda conforme o dirigente, somados os intervalos entre a aquisição, processamento e entrega, surge, de fato, uma distorção entre os preços praticados na cadeia.
“A carne é um produto de oferta quase diária, por isso as divergências são maiores. Mesmo assim, o contrafilé registrava valor de compra de R$ 27 por quilo em janeiro, passou a R$ 22 e agora marca R$ 20. Já é possível perceber um processo de queda”, exemplifica.
Fonte da Notícia
Jornal DCI