O manejo antigo e tradicional do rebanho bovino, com gado apenas solto na pastagem, sem investimentos robustos em suplementação ou adubagem, está perdendo espaço para fazendas equipadas e geridas na ponta do lápis na região sul de Mato Grosso do Sul
Aquidauana (MS), 29/06/2018 – O manejo antigo e tradicional do rebanho bovino, com gado apenas solto na pastagem, sem investimentos robustos em suplementação ou adubagem, está perdendo espaço para fazendas equipadas e geridas na ponta do lápis na região sul de Mato Grosso do Sul. “A pecuária tradicional na qual a gente se criou está prestes a morrer”, afirma Sinval Neves, que cria gado há 50 anos na região de Guia Lopes da Laguna. A fazenda de Neves foi uma das propriedades visitadas pela Equipe 2 do Rally da Pecuária, que o Broadcast Agro acompanha.
Atualmente, Neves trabalha com a atividade apenas de cria, em uma propriedade com 500 cabeças de vacas, criadas a pasto. Sem a estrutura de grandes pecuaristas, ele diz que encontra dificuldades para lidar com as crescentes exigências do mercado. “Reduzir a idade de descarte para abate, por exemplo, exige investimento muito alto”, disse.
Além das exigências de mercado, o pecuarista afirmou que o aumento dos custos de produção, na contramão da arroba do boi cada vez mais pressionada para baixo, tem sido um obstáculo para permanecer na atividade com um bom retorno. “Faz dois anos que a arroba caiu e não voltou mais, e o custo só aumenta”, garantiu. Para exemplificar, ele argumentou que em abril de 2016, vendeu um lote de vaca gorda por R$ 136/arroba e, na mesma época, pagava R$ 48 pelo saco de 30 quilos de sal usado na nutrição animal. Hoje, ele consegue R$ 120 pela arroba, enquanto paga R$ 60 pelo mesmo saco do insumo.
O pecuarista ressaltou que questões além da porteira também provocam dificuldades. “Prometeram que iriam mudar a vacina contra a aftosa, reduzindo a dose, mas até agora nada foi feito”, disse. Segundo Neves, a imunização da forma como é realizada atualmente no País gera caroços e muitas vezes feridas no gado. Ele acredita que o produto deve ser melhorado. Sobre a retirada da obrigatoriedade da vacina em todo o território nacional, Neves ponderou que pode ser bom para o pecuarista, mas que há risco de o vírus voltar a circular e que o País deve estar preparado para controlar o problema.
Tecnologia
A poucos quilômetros de distância, o pecuarista Daniel Thomaz vive uma outra realidade. Thomaz faz recria e engorda, na fazenda Modelo, no município de Nioaque. Com fôlego para investir, em uma propriedade com 4.500 cabeças de gado, o pecuarista acredita que a aposta em tecnologia é a única saída para se manter e evoluir na atividade.
Ele comentou que foi o pai, Waldomiro Thomaz, de quem herdou a fazenda, que começou a investir em tecnologia na propriedade ainda na década de 90 do século passado. “Ele achava que o perfil da pecuária iria mudar e estava certo”, disse. Além de fazer uso de um pacote tecnológico completo em sua linha de produção, ele também faz constantes análises técnicas em sua propriedade e promove cursos de capacitação para os funcionários, com o intuito de aumentar a produtividade. “Hoje você precisa de muito volume para ter uma margem”, explicou.
Em comum com o pecuarista Sinval Neve, de Guia Lopes de Laguna, Thomaz também tem reclamações em relação à vacina contra a febre aftosa e acredita que a fórmula deve ser melhorada. “Os animais chegam a ficar cerca de 10 dias sem comer o suplemento proteico, após a aplicação”, diz sobre a reação. Thomaz é contra ao plano de retirada da obrigatoriedade da vacina no País. Para ele, a vacinação é uma segurança para a atividade.
O coordenador do Rally da Pecuária e diretor da Athenagro, Mauricio Palma Nogueira, afirmou que aqueles pecuaristas que não conseguirem elevar seu nível de produtividade deverão ser excluídos do segmento por causa da dinâmica do segmento. “O mercado está indo para um nível de produtividade mais alto que vai fazer com que os preços se ajustem”, salientou. Segundo Nogueira, a pecuária brasileira tem evoluído muito nos últimos anos e saltou de uma produtividade média de 1,5 arroba por hectare na década de 1990, para cerca de 4 arrobas por hectare atualmente.
(Camila Turtelli*, camila.turtelli@estadao.com)
* A jornalista viajou a convite do Rally do Pecuária
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