Empregos, salários e impacto social da carne bovina

A produção de carne bovina movimenta 4,5 milhões de empregos no Brasil e, em 25 anos, suportou uma elevação nos custos quase duas vezes maior do que o aumento nos preços da carne aos consumidores.

Com base em indicadores e métricas de fazendas e operações frigoríficas, estima-se que cerca de 3,3 milhões de empregos estejam diretamente relacionados à produção, transporte e manipulação de carne bovina até sua chegada ao consumidor final.

O cálculo não envolve a quantidade de empregos gerados antes da porteira, ou seja, na produção e transporte de insumos e outros produtos de origem no agronegócio, como milho e subprodutos usados na nutrição animal. Nesses casos, os empregos serão contabilizados em outras cadeias produtivas, ainda que sejam gerados pela demanda na produção de carne bovina.

Em 2019 o total dos empregos somou R$65 bilhões em salários, cerca de 11% do PIB da pecuária de corte, segundo estudo encomendado anualmente pela Abiec (Associação das Indústrias Exportadoras de Carne) e conduzido pela Athenagro.

O resultado de todo o movimento financeiro, somado ao montante dos salários recebidos pelos trabalhadores do setor, teria gerado outros R$35 bilhões em salários aos empregos criados por efeito renda, segundo critério adaptado a partir de estudos de geração de empregos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento). A quantidade de empregos por efeito renda seria algo em torno de 1,2 milhão de postos de trabalho.

Em outras palavras, a produção de carne bovina, a partir das fazendas, é responsável pela manutenção de, no mínimo, 4,5 milhões de empregos. 

Esse número, no entanto, pode ainda estar subestimado, visto que é difícil dimensionar a quantidade de mão de obra familiar distribuída nos cerca de 1,95 milhão de estabelecimentos pecuários com menos de 50 cabeças, segundo o censo de 2017 (IBGE). 

Além da quantidade de empregos, a qualidade dos postos de trabalho vem melhorando com a modernização da produção. Enganam-se os que acreditam que a intensificação reduza os postos de trabalho. Baseiam-se no fato de que, em produtividades mais elevadas, a quantidade de animais por funcionário ocupado aumenta. O mesmo ocorre com a modernização de plantas frigoríficas.

No entanto, a intensificação só ocorre com o aumento no uso de insumos. Além disso, o próprio resultado amplia a escala de produção na mesma área. Sendo assim, na prática, os empregos que seriam gerados, em situações de baixa tecnologia, passam a ser criados em outras atividades relacionadas, como indústrias, serviços, transportes, varejo e comércio.  Mesmo os empregos nas fazendas melhoram de qualidade. Propriedades com maior aporte de tecnologia demandarão maior qualificação do trabalhador, o que exige treinamento que será recompensado por salários mais elevados, quando comparados aos empregos de baixa qualificação.

É por essa razão que, ao analisar a geração de empregos em uma atividade, é fundamental avaliar o desempenho através do conceito de cadeia produtiva e não apenas pela produção agrícola isolada. Caso contrário, conclui-se equivocadamente que o aporte tecnológico seja inimigo do emprego.

A produção de carne bovina e a indústria do açúcar e álcool são sempre mal interpretadas do ponto de vista dos benefícios sociais, quando se fala em postos de trabalho.

No caso da pecuária, a alternativa para se evitar uma crise do ponto de vista social nos próximos anos é justamente focar as políticas agrícolas para o esforço em incorporar os descendentes de pequenos produtores em funções relacionadas à atividade, evitando assim o empobrecimento dos cidadãos que vivem no campo.

A pecuária moderna é viável em propriedades de pequenas áreas, desde que conduzidas com alta tecnologia. No entanto, para atingir níveis tecnológicos competitivos, os produtores precisam de recursos para investimentos e muita base técnica para conduzir uma atividade mais sofisticada e difícil de administrar. São exigências inacessíveis à grande maioria dos pequenos produtores de baixa tecnologia que estão no campo.

Além da geração dos empregos, há outros ganhos relacionados à produção de carne. Os benefícios sociais conquistados com o avanço tecnológico durante os últimos 25 anos são incontestáveis. Desde agosto de 1994, mês de implementação do plano Real, os custos para a produção de bovinos em uma propriedade aumentaram 1.200%, em valores nominais. No mesmo período, os preços recebidos pelos produtores aumentaram 760%.

Para sobreviver a essa queda nas margens, os pecuaristas aumentaram significativamente a produtividade. De 1994 a 2019 a quantidade de carcaça produzida por hectare aumentou 150%.

O aumento de eficiência não aconteceu apenas nas fazendas. Os preços das carnes, recebidos pela indústria, aumentaram 750% no período, 10 pontos porcentuais a menos do que o aumento no custo da matéria prima (boi e vaca). Parece pouco, mas é nesse período que a indústria mudou toda a forma de apresentação das carnes, incorporando custos com desossa, embalagens e serviços.

Houve investimento em plantas modernas, melhoria no transporte, adaptação às exigências trabalhistas e ambientais, melhoria nos protocolos de controle de qualidade e, claro, o consequente aumento de custos da operação de abate. Os frigoríficos também perderam margens.

O preço pago pelos consumidores, no mesmo período, aumentou 770%. Não fosse a mudança nos hábitos de compra, que ocasionou o agigantamento das redes de supermercados, o consumidor poderia ter colhido ganhos ainda maiores. Parte desses ganhos foram incorporados pelo setor varejista, que implementaram mudanças nas estratégias de comercialização com agregação de valor e consequente aumento no mark´up de vendas de carnes.

Nesse mesmo período as exportações saíram de praticamente nada – cerca de 170 mil toneladas por ano – para as atuais 2,5 milhões de toneladas de equivalente carcaça, com um aumento de 14 mil vezes na quantidade embarcada para exportações.

Exportações, modernização da cadeia produtiva e incremento tecnológico na produção garantem ganhos sociais para a população brasileira. Os resultados são incontestáveis.

Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo e diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária

Fonte da Notícia
Athenagro

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